terça-feira, 6 de outubro de 2009

Palavra de...Honra...



Acho que o peso da idade física começa finalmente a manifestar-se. Não quero com isto dizer que me sinto velho, ou fora de forma, nada disso. É que com o passar dos anos fico cada vez mais saudosista, correndo o sério risco de me transformar num conservador compulsivo, algo que nunca imaginei possível, e que sempre abominei.
Hoje dei comigo a pensar (coisa rara nos últimos dias), como é que a sociedade deixou de utilizar a "palavra" como carimbo de qualidade, confiança, ou até da afirmação da própria honra!
Há bem poucos anos atrás, não eram raras as vezes que ao virar da esquina, se escutava dezenas de vezes a expressão "...palavra de honra...". Quem não se lembra também de um negócio qualquer, onde os intervenientes tenham dispensado o contracto promessa, selando as suas palavras com um simples aperto de mão? Seria fastidioso estar aqui a enumerar os vários exemplos da importância que já atribuímos à "palavra", do rol encontrado, no breve exercício de memória efectuado. Assim centro-me tão só nas reais causas que provocaram a sua quase extinção.
A banalização da "palavra", de tantas vezes que a desonraram, o desenvolvimento e o natural acesso em massa ao conhecimento, levando a uma melhor manipulação da língua mãe, a famosa globalização que trouxe consigo o fim do sentimento de proximidade, onde todos éramos vizinhos e vizinhas, primos e enteados, e por fim a verdadeira onda do endeusamento do ego, são factores que me saltam á vista. Estes deram um contributo decisivo para o afastamento da confiança na nossa sociedade. Assim ganhou mais força a expressão "amigos... amigos, negócios á parte", ou até mesmo , "o que hoje é verdade, amanhã é mentira", asfixiando finalmente o poder da "palavra".
Estou consciente que é verdadeiramente utópico, pensar que seja, no regresso ao tempo em que todos eram de confiança até prova do contrário. Acreditar que tal seria possível, faria de mim o "Otário" de serviço, servindo apenas como veiculo para a gargalhada geral.
No entanto não deixo de estar no meu pleno direito á indignação. Isto de substituir uma única palavra, por uma série de burocracias bacocas é por si só uma boa gargalhada.
Quem já não assinou 50 papeis lidos em 30 segundos, muitas vezes sem perceber na totalidade o que lá está escrito, descobrindo depois ao longo do tempo, a existência nesses mesmos documentos, de cláusulas com as quais não concorda?
É essencialmente por isto que concluo, que apesar de terem mudado os costumes, numa tentativa de moralisar a nossa sociedade compulsivamente, é tarde demais para terminarem com as burlas encapotadas, e com a falta de vergonha, desrespeito pelo próximo, e falsos moralismos que imperam ao virar de cada esquina.

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