domingo, 15 de novembro de 2009

O lago do futuro

Há pormenores deliciosos aos quais assistimos diariamente, e não lhes prestamos a devida atenção, ou importância. Um destes dias, durante um discurso proferido por um amigo, ouvi contar uma fábula da autoria de um jornalista Catalão. É uma das muitas crónicas, neste estilo literário, que um Jornal local de Barcelona publica do autor. O discurso estava muito bem preparado como sempre, mas esta história ficou na retina pela mensagem implícita, e pela sua pertinente actualidade. Sinteticamente, esta narrativa decorre num lago, cheio de vida marítima, habitado por milhares de espécies marítimas, formando assim um belo ecossistema, sem falhas aparentes, onde todos eram prósperos e felizes. No entanto, um belo dia os governantes receberam por parte do seu departamento científico, uma notícia devastadora. O lago iria secar muito em breve. Restava portanto aos seus habitantes uns míseros seis meses de vida. Sem alternativa, os governantes apressaram-se a convocar todas as espécies para as colocar a par dos acontecimentos. Na reunião foi dito que não existiam soluções viáveis para a salvação do ecossistema, a única que se perspectivava como possível, seria os peixes começarem a sair do lago, e aprender a respirar no exterior. A totalidade da população não entendeu a comunicação como um aviso sério, excepto um único peixe, o mais fraco por sinal. Este temerário habitante, começou a elaborar um plano de treino. Na primeira semana, sairia do lago durante uma hora para aprender uma nova forma de respirar, na segunda duas horas, e assim sucessivamente, até finalmente conseguir adaptar-se à vida exterior. Os restantes habitantes do lago continuaram a viver como se não existisse um epilogo. Ao fim de três meses o peixe outrora fraco, estava completamente apto a viver fora do lago e partiu, rumo ao desconhecido, sem perceber muito bem o que o esperava neste seu mundo novo. Mas nunca deixou de visitar o seu antigo lar, era assim que matava as saudades. O lago ficava visivelmente mais pequeno com o passar dos dias, e era visível a maior dificuldade dos restantes habitantes em sobreviver. O espaço era mais exíguo, havia cada vez menos alimentos, e era quase impossível respirar. Até que ao fim dos seis meses previstos, o lago finalmente secou, e com ele pereceram todos os seus habitantes. O único sobrevivente, daquele ecossistema outrora próspero era o débil peixinho, que atempadamente se preparou para as dificuldades anunciadas, e arriscou. Ora como os tempos que atravessamos continuam a ser extremamente difíceis, e a época natalícia que vamos atravessar convida a inusitados excessos, convém lembrar alguns avisos à navegação. E este em particular é de extrema importância, quer economicamente, quer aplicado a todos os aspectos da nossa vida. Só os mais bem preparados, estão aptos a passar incólumes pelas adversidades, mesmo que aparentem visíveis fragilidades. Perdoem esta minha apetência para estas psicologias baratas, mas apeteceu-me partilhar.

2 comentários: