quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Laços




Há sabores bem amargos... Bem mais que o café da manhã ingerido sem açucar. Eu que sou adepto da modalidade, posso atestar com certificado de garantia esta afirmação.
Nós portugueses, adquirimos o hábito de conseguir sarar as nossas feridas, olhando para o vizinho do lado, sempre com a leve esperança que este passe por momentos mais delicados, para então podermos afirmar " livra...afinal eu até estou bem". Quem de nós já não o fez? Duvido que alguém possa levantar o braço...
Admito que os meus equilibrios estão um pouco fragilizados, tudo porque a vida fez o favor de enviar mais uma das famosas lições. Fiquei a saber, não interessa como, que um velho amigo, dos poucos amigos que nos restam e pelos quais dariamos tudo, até a vida se necessário fosse, estava de luto. A mãe havia falecido...e eu como sempre, cheguei tarde...muitos dias mais tarde diga-se.
Não é que a minha presença pontual lhe desse mais ou menos conforto, ou lhe devolve-se a perda. Estaria ser presunçoso demais se eventualmente uma réstea da ideia me ocorresse. Mas não é nos maus momentos que se vêem as verdadeiras amizades? Não gostamos nós de levantar a cabeça e ver que um pouco da nossa dor está a ser partilhada? Estas questões atormentam-me desde então. Não é com um e-mail escrito, mais ou menos apressadamente que justificamos o injustificável, e muito menos com um post num mísero blog.
O nosso percusso neste mundo ás vezes obriga a mudanças de direcção muito acentuadas, e influênciados pelos mais variados tipos de egoísmos pelos quais somos assolados diáriamente, optámos por seguir caminhos diferentes. Mesmo consciente desta verdade incontornável, o facto é que não me sinto minimamente confortado pelo facto. Ter ainda uma réstea de consciência é por vezes um grande fardo. Por vezes a vontade de atira-la borda fora é tanta, que só de pensar no assunto, sinto-me logo a espumar de raiva. Não quero com isto chegar aos calcanhares de um qualquer Paladino, ou candidatar-me ao prémio Nobel da Paz. É que ainda me sinto mais aborrecido, porque ele (amigo), sempre que o acaso no fazia cruzar, avisava:
" Aparece...Vê se vens ver os amigos de vez enquando... Ainda és vivo?"
Acreditem que estas palavras me tocavam...aliás como tocavam, mas o ego falava mais alto, sempre falou. E sabem? Este é dos amigos que nunca faltaram quando mais precisei...Nunca. Aliás só estou sentado nesta cadeira, e a escrever neste teclado, porque um dia, ele se lembrou de ligar para o télemóvel a dizer:
"...pá queres ir trabalhar? Os tipos da...estão a precisar de gente, e eu lembrei-me de ti."
E eu? Quantas vezes lembrei que ele existia?
Percebem agora? Pecebem porque é que eu não posso estar "equilibrado". Não querendo transformar o texto numa verdadeira tragédia grega, porque não é essa a minha verdadeira intenção, digo-vos que hoje de manhã ao visitar o blog onde o voltei a descobrir, fiquei de novo a saber, que mais um familiar faleceu. E querem saber onde eu estava? No mesmo sítio...exactamente no mesmo sítio.
É por isto que hoje estou com os meus laços de luto! Não só porque alguém conhecido continua num ciclo de sofrimento, mas essêncialmente porque ando a matar, mais ou menos conscientemente laços que sempre me disseram muito.
Amigo espero que um dia, quando tu também estiveres mais equilibrado, possas ler com atenção, compreendas e perdoes. Não é que esqueças, que simplesmente perdoes .

5 comentários:

  1. É verdade... a vida prega-nos algumas partidas!

    Gostei muito do teu blogue, escreves muito bem! Mesmo! Vou voltar, posso?
    :) Beijinho

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  2. hum...deixa ver...hum...bem, se prometeres continuar a torcer dessa forma pelo "GLORIOSO", e nunca mais beber uma super bock (esta a patrocionar o fcp), digamos que fico muito honrado com tão ilustre presença.
    E já agora obrigado, muito obrigado.

    Beijos
    Feliz por te reencontrar :b

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  3. Está tudo prometido, inclusivé a da Super Bock! Nunca fui muito dada à cerveja!!
    :) Beijo

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  4. LI com especial atenção. RELI com especial atenção.
    E acrescento: Não há NADA para perdoar, apenas a sublinhar que as distâncias mais não são do que contingências que, acretimos ou não, não são pontos finais nos percursos, mas sim reticências. Quem é, acredito, raramente deixa de o ser, presencialmente ou não.
    Abraço e Obrigado pelo teu Carinho.
    Ah, estou aqui, ali, por aí... Sempre.

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  5. Acreditemos, era o que queria dizer. (este teclado é demasiado lento para o meu pensamento)

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